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O que você precisa saber sobre insônia

A insônia é um problema de saúde pública, comum entre adultos, caracterizada por queixa de sono insuficiente ou de má qualidade. Ela tem influência tanto na qualidade de vida do indivíduo quanto na sociedade em geral, em termos de faltas e acidentes no trabalho, e aumento de custos em cuidados com a saúde. Estudos demonstram que cerca de 30% da população reporta pelo menos um sintoma de insônia, por exemplo, dificuldade para iniciar ou manter o sono ou sono não reparador, contudo as taxas de prevalência de transtorno de insônia variam entre 5% a 15%.

Manifestações clínicas

As queixas podem ser relacionadas à dificuldade de adormecer, manter o sono ou de despertar mais cedo que o desejado pela manhã, e isso pode ocorrer independente das características do ambiente que poder influenciar no sono. A duração dos sintomas define o tipo de insônia a que um indivíduo pode estar suscetível. Para caracterizar um transtorno de insônia, os sintomas devem estar presentes por, pelo menos, 3 noites na semana por um período mínimo de 3 meses. O diagnóstico é realizado através de avaliação clínica, com base em critérios objetivos de manuais diagnósticos, e uma avaliação detalhada dos comportamentos e sintomas relacionados ao sono, conforme exemplificado na figura abaixo.

Sintomas noturnos e sintomas diurnos do transtorno de insônia crônica de acordo com a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD)..
Critérios diagnósticos do transtorno de insônia de acordo com a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (em inglês, International Classification of Sleep Disorders, ICSD).

As dificuldades de sono são acompanhadas de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. A perturbação do sono pode ocorrer durante o curso de outro transtorno mental ou condição médica ou de forma independente. Pessoas com insônia geralmente descrevem preocupações excessivas, pensamentos distorcidos e atenção seletiva a estímulos excitantes.

Fatores associados

Manifestações de insônia muitas vezes mudam ao longo do tempo. Por exemplo, uma pessoa pode inicialmente ter dificuldade em adormecer, mas depois passa a ter dificuldade em permanecer dormindo, ou vice-versa. Os fatores associados à persistência da insônia são muitas vezes os mesmos associados a sua incidência, dentre eles, sexo feminino, idade avançada e presença de problemas médicos e/ou de saúde mental como depressão. Ela também pode ser uma condição muito persistente, independente de transtornos mentais.

A insônia crônica tem sido associada a um risco aumentado de novo episódio de depressão maior e pode ser um fator de risco independente para doenças cardíacas, hipertensão e diabetes, especialmente quando combinado com duração de sono inferior a 6 horas por noite. Em geral, as mulheres podem ser mais suscetíveis à insônia do que os homens. O maior risco de desenvolvimento de ansiedade e depressão pode influenciar na pior qualidade de sono entre as mulheres.

Pandemia de COVID-19

Cabe-se ressaltar que as dificuldades de sono têm aumentado durante a pandemia de COVID-19. Inclusive, especialistas criaram o termo corona-insônia para se referir a insônia causada pelo estresse devido à pandemia. Os sintomas incluem a dificuldade em adormecer ou permanecer dormindo, níveis de estresse aumentados, aumento de ansiedade e depressão, horários tardios de sono e sintomas de privação de sono. Embora a insônia esteja frequentemente ligada à ansiedade e depressão, a corona-insônia difere da insônia tradicional porque está relacionada à pandemia de COVID-19.

Em pesquisa realizada com brasileiros durante a pandemia, observou-se que mais de 40% dos participantes avaliados passaram a ter problemas na qualidade de sono durante a pandemia e observou-se piora dos problemas em quase 50% dos que já tinham algum problema de sono prévio. Estes resultados foram observados em maior prevalência nos adultos jovens, mulheres e pessoas com diagnóstico prévio de depressão.

Me identifiquei com estas características, e agora?

Para melhor entendimento sobre os processos que podem interferir no sono, é importante ficar atento(a) aos pensamentos e comportamentos que podem acontecer nestes três momentos: antes de deitar para dormir, na cama pronto para dormir e durante qualquer despertar noturno. A avaliação requer a observação dos sintomas noturnos e diurnos relacionados ao sono, bem como a duração e a associação temporal desses sintomas com estressores psicológicos ou fisiológicos.

Além de aplicação de práticas voltadas para o cuidado da saúde mental e da qualidade do sono, a busca de um profissional especializado é indicada quando as dificuldades interferirem nas suas atividades diárias.

Referências:

American Academy of Sleep Medicine. International Classification of Sleep Disorders. 3ª ed., Darien IL: American Academy of Sleep Medicine, 2014.

Barros, MBA et al. Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2020;29(4):e2020427.

Morin CM, Jarrin DC. Epidemiology of Insomnia: Prevalence, Course, Risk Factors, and Public Health Burden. Sleep Med Clin. 2013;8(3):281–297.

National Sleep Foundation. Coronasomnia: Definition, Symptoms, and Solutions. April 14, 2021. Disponível em: https://www.sleepfoundation.org/covid-19-and-sleep/coronasomnia

Winkelman JW. CLINICAL PRACTICE. Insomnia Disorder. N Engl J Med. 2015;373(15):1437-44.

Zhang B; Wing YK. Sex differences in insomnia: a meta-analysis. SLEEP 2006;29(1): 85-93.

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