O último mês do ano costuma ser intensamente simbólico. Dezembro carrega o peso das expectativas, das metas não concluídas, da correria típica das últimas semanas e do desejo de encerrar o ciclo “da melhor forma possível”. No entanto, essa ideia de fechamento perfeito pode gerar estresse emocional, sensação de insuficiência e comparações que afetam diretamente a saúde mental. É sobre isso que vamos falar no texto de hoje para finalizar o ano com mais leveza e metas mais realistas.
Em períodos de alta demanda emocional e maior pressão social, muitos estudos mostram que há um aumento significativo nos níveis de estresse percebido e sintomas relacionados à ansiedade e exaustão. Esse cenário aparece de maneira marcante no final do ano, quando há sobrecarga de tarefas e aumento das exigências internas e externas.
Fatores que pioram a saúde mental no final de ano
A autocobrança é um dos fatores que pesa mais ainda nesse período. Muitas pessoas podem sentir que não cumpriram “tudo o que haviam planejado”, e essa sensação pode gerar frustração e autocrítica. Quando o ano termina, tendemos a olhar para o que falta em vez de reconhecer o que foi possível realizar dentro das circunstâncias e desafios enfrentados. Quem aí se identifica?
A questão é que esse olhar negativo sobre si mesmo e o que não fez aumenta o sofrimento emocional e contribui para um padrão de comparação constante com o que vemos nas redes sociais ou com o ritmo de outras pessoas. A literatura científica mostra que o comportamento de se comparar frequentemente está associado a menor bem-estar psicológico, menor satisfação com a vida, níveis aumentados de “medo de ficar de fora” (FOMO), altos níveis de dependência de mídias sociais, censura frequente para evitar julgamentos, sensação de segurança ao usar as mídias sociais e maior probabilidade de sintomas depressivos.
Ao mesmo tempo, o corpo também sente os efeitos desse ritmo acelerado. O aumento de compromissos, as viagens, as celebrações e a rotina mais desorganizada podem alterar o sono, provocar cansaço acumulado e diminuir a capacidade de concentração. Quando não damos ao organismo tempo suficiente para descansar e se recuperar, mais compromissos ou pequena demanda tendem a parecer maiores. Por isso, o final do ano é um período em que o equilíbrio entre atividade e descanso se torna ainda mais essencial.
Então, o que pode auxiliar para conciliar metas, compromissos e saúde mental neste final de ano?
Uma forma de enfrentar esse período com mais leveza é rever expectativas. Metas muito rígidas ou irrealistas podem gerar frustração, enquanto metas possíveis promovem engajamento e satisfação. Ao olhar para o ano que passou, vale reconhecer avanços, mesmo que pequenos, e redefinir o que realmente importa para o próximo ciclo. Em vez de tentar “fechar o ano fazendo tudo”, pode ser mais saudável reorganizar as prioridades e focar no que faz sentido para você.
O planejamento para o próximo ano também pode ser feito com mais gentileza. Metas possíveis são aquelas que dialogam com sua rotina, limites, valores pessoais e tempo para os imprevistos. É comum que, no entusiasmo de um novo ciclo, as pessoas criem listas extensas e pouco viáveis. No entanto, objetivos alcançáveis fortalecem a autoestima, reduzem a pressão excessiva e tornam o processo mais sustentável. Isso inclui organizar o tempo com mais equilíbrio, estabelecer momentos de descanso e reconhecer que produtividade não se resume a fazer mais, mas sim a fazer o que é significativo.
Outro cuidado importante é monitorar o comportamento de comparação. As redes sociais frequentemente mostram apenas recortes da vida das pessoas, comuns em pessoas que trabalham com as redes, como blogueiras(os) e influencers. Contudo, comparações baseadas nesses fragmentos distorcidos tendem a gerar sofrimento emocional. Desta forma, manter o foco em sua própria jornada, observar o que você valoriza e respeitar sua história e trajetória pode tornar o final do ano mais tranquilo.
Além disso, o sono não é apenas descanso: ele é um pilar da saúde mental e emocional a ser cuidado. Quando negligenciamos o sono, deixamos de dar ao corpo e à mente a base necessária para regular emoções, processar estresse e se recuperar.
Para ter em mente:
O autocuidado emocional, a organização do tempo, a atenção a boas práticas de higiene do sono, e a definição de metas possíveis ajudam a construir um encerramento de ano mais leve. E caso você perceba que a ansiedade, a culpa ou a sensação de esgotamento estão intensas, buscar apoio psicológico é uma forma de acolher suas necessidades e iniciar o próximo ano com mais equilíbrio e saúde mental. O final do ano não precisa ser uma corrida para compensar o que faltou, mas sim um período de reflexão, cuidado e gentileza consigo. Se você sentir que precisa de ajuda, conte com a nossa equipe! 💙 Acesse aqui e fale com a gente!
Referências:
Gomez, M., Klare, D., Ceballos, N., Dailey, S., Kaiser, S., & Howard, K. (2022). Do you dare to compare?: The key characteristics of social media users who frequently make online upward social comparisons. International Journal of Human-Computer Interaction, 38(10), 938–948.
Vogel, E. A., Rose, J. P., Roberts, L. R., & Eckles, K. (2014). Social comparison, social media, and self-esteem. Psychology of Popular Media Culture, 3(4), 206–222.
Yu, X., Nollet, M., Franks, N.P., & Wisden, W. (2025). Sleep and the recovery from stress. Neuron, 113(18), 2910-2926.





